quarta-feira, 22 de junho de 2016

A DICOTOMIA ENTRE O ESPAÇO RURAL E URBANO


O espaço rural e urbano engloba dois universos no espaço geográfico se inter-relacionando na divisão territorial e do trabalho. O espaço urbano é o espaço de alta densidade populacional, seja, povoado ou populoso. O espaço rural é a representação das atividades primarias e produção de matérias-primas em áreas pouco povoadas ou populosas.

Uma das principais diferenças entre urbano e rural está, assim, nas praticas socioeconômicas. O espaço rural, como já dissemos, engloba predominantemente atividades vinculadas ao setor primário [...] o espaço urbano costuma reunir atividades vinculadas ao setor secundário [...] e terciário [...]. (www.brasilescola.uol.com.br. Acessado em 02/06/16).


No plano cartográfico o espaço rural é maior, possui as áreas cultivadas e transformadas. O espaço urbano é menor, disputado e especulado, possui maior potencial e dinâmica da economia, tanto nos espaços urbanos desenvolvidos quanto nos espaços urbanos em desenvolvimento. Chama-se urbanização o processo no qual a população urbana passa a crescer de maneira mais acelerada que a população rural. Ocorre à transferência em grande escala da população do campo para as cidades, assim, ocorrem às migrações rural-urbanas, ou, como são conhecida nos países em desenvolvimento, êxodo rural.

“O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural, associado a dois condicionantes que se interligam: a repulsão da força de trabalho do campo e a atração dessa força de trabalho para as cidades.” (Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. P. 113.). O processo de urbanização de um país ou de uma região não consiste somente no crescimento das cidades, mas também à medida que a porcentagem de sua população urbana aumenta em relação a sua população total. Até a década de 1990 a maior parte da população mundial ainda vivia no campo. Na década de 2010 essa proporção se inverteu, assim, a maioria da população mundial passou a viver nas cidades urbanas.

[...] os migrantes dirigem-se há décadas em busca de empregos e salários na construção civil, no comercio ou nos serviços. O mercado urbano diversificado permite o aparecimento do trabalho informal, sem vinculo empregatício. [...] as cidades dispõem de serviços públicos de assistência social e hospitalar [...]. (Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. P. 113).


Partindo de aspectos históricos os países mais urbanizados são aqueles que se encontram nas regiões mais desenvolvidas e industrializadas. O processo de urbanização nesses países ocorre há mais tempo que nos países em desenvolvimento, desde o século XVIII. À medida que esses países se industrializaram as cidades ganharam novos postos de trabalho na indústria, comercio e serviços. A revolução industrial fomentou e estimulou a revolução agrícola, com a modernização das técnicas e ferramentas no campo ocorreu o êxodo rural.

Ainda no século XIX as grandes cidades industriais europeias tinham como características péssimos bairros e baixa infraestrutura como: condições insalubres, doenças e epidemias, a falta de saneamento básico, falta de água encanada e seus esgotos a céu aberto e a falta de coleta de lixo. As precárias condições de vida nesses centros urbanos levaram as populações a exigirem melhorias nas cidades como: melhores salários, áreas de lazer, água tratada, rede de esgotos, educação, saúde e segurança.
Com o tempo surgiu à descentralização urbana, ou seja, o crescimento das cidades vizinhas surge assim à rede urbana com indústria, comercio e serviços diversificados. “O espaço geográfico abrange as redes formadas por complexos sistemas de fluxos de pessoas, bens, serviços, capitais, tecnologia e informações que caracterizam a sociedade contemporânea. (Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. P. 114)”.

A ligação entre o espaço rural e urbano resultou ao longo da história a transferência das populações do meio rural para o meio urbano. O crescimento dos centros urbanos está principalmente ligado aos locais onde a indústria alcançou um nível sofisticado de desenvolvimento. O desenvolvimento industrial promoveu gigantescas aglomerações urbanas hoje denominadas metrópoles. O crescimento exagerado do numero de metrópoles e seus espaços físicos provocaram inúmeros problemas para as suas sociedades ou populações, esse fenômeno gerou especulação imobiliária devido à escassez de espaço nas cidades, alta carga tributaria, transporte publico incapaz de atender as necessidades de suas populações, pouca ou insuficiente infraestrutura, congestionamentos, alto custo de mão de obra assalariada, sindicatos organizados e numerosos, poluição atmosférica e hídrica.

No ano de 2011, segundo dados da Organização das Nações Unidas a população mundial ultrapassou a marca de sete bilhões de habitantes. (UNITED Nations Population Division. World Population Prospects 2010. Disponível em: http://esa.un.org/upp. Acesso em: 07/03/2013). 


Tais fatores acarretaram no distanciamento e até a transferência das grandes indústrias das metrópoles nas ultimas décadas. Essa mudança provocou a reorganização espacial das indústrias caracterizando a desconcentração física dos parques industriais nos grandes centros urbanos. Essas indústrias deslocadas para as áreas periféricas como as cidades médias conseguiram deslocar o capital e as ofertas de postos de trabalho.
Fatores como incentivos fiscais e sindicatos menos organizados e numerosos motivaram essa desconcentração da atividade industrial. Os governos estaduais e municipais se utilizam de vantagens a essas indústrias como redução ou isenção tributaria, doação de terrenos, oferta de infraestrutura básica como asfalto, rodovias, ferrovias, potencial energético satisfatório, saneamento básico e menores salários.

No Brasil [...] a indústria ainda está bem concentrada no sudeste do país e no estado de São Paulo. Essa região responde por cerca de 79% do volume total de industrias do país e 62% do volume de produção, além de ocupar 53% do total de pessoas da industria e responder por 68% das exportações e 69% das importações do país. (Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil.P. 134).


No campo a modernização das técnicas agrárias reduziu a mão de obra rural provocando mudanças na relação de trabalho. Com o advento da revolução agrícola, técnicas e máquinas, os trabalhadores rurais agora obsoletos precisaram abandonar o espaço rural migrando para as grandes cidades.

O avanço do trabalho assalariado no campo decorreu do próprio processo de expansão das relações de produção capitalista no meio rural. (Novo Olhar. P. 209).

As relações capitalistas de produção são relações baseadas no processo de separação dos trabalhadores dos meios de produção [a terra, no caso do espaço rural], ou seja, os trabalhadores devem aparecer no mercado como trabalhadores livres de toda a propriedade, exceto de sua força de trabalho. (Modo de produção capitalista, agricultura e reforma agrária. P. 39.).


A reforma agrária é um caminho para o equilíbrio social no campo. Desde o Estatuto da Terra (1964 – 1985) no regime militar a reforma agrária no Brasil vem sendo adiada e sabotada gerando uma lógica sensação procrastinatória. Mesmo aprovada pela Constituição Federal em 1988 a reforma agrária caminha a lentos passos.
A reforma agrária visa o ideário de que a terra deve possuir uma função social, devendo ser utilizada para a produção de alimentos, matéria-prima e gerar renda e emprego aos trabalhadores rurais.

A grande dificuldade em promover a reforma agrária está na oposição da bancada ruralista no congresso brasileiro. Essa bancada é formada por deputados e senadores que defendem os interesses dos grandes latifundiários. Mesmo que existam leis que regulamentam a desapropriação de terras os grandes latifundiários e ruralistas travestidos de legisladores e senadores impedem essas desapropriações através de ações judiciais que podem se arrastar por até uma década.

Essa situação tem contribuindo para a manutenção das tensões e conflitos sociais no campo brasileiro. Movimentos sociais engajados na reforma agrária lutam por uma distribuição justa de terras visando diminuir as tensões e desigualdades no campo brasileiro, aumentando o número de pequenas e médias propriedades, gerando emprego e fixando o maior número possível de trabalhadores no campo. Sem uma reforma agrária séria e efetiva a realidade do campo brasileiro continuará marcada pela existência de uma das estruturas fundiárias mais concentradas e injustas do mundo gerando o empobrecimento dos camponeses, aumentando o número de famílias sem terras e o aumento gradativo de terras invadidas no espaço rural brasileiro. 


Um comentário: